OURO BRANCO, 114 ANOS DE HISTÓRIA E TRADIÇÃO

Por: José Fabrício de Lucena

O atual território de Ouro Branco começou a ser colonizado verdadeiramente a partir de 10 de junho de 1722 com a concessão da sesmaria n° 184, Data do Espírito Santo. Serafim de Souza Marques, Francisco Soares da Costa e o sargentor-mor Manoel Marques de Souza foram os requerentes da Data do Espírito Santo. A fazenda do Espírito Santo, instalada nas terras da Data do Espírito Santo, somente foi demarcada em 1752. Por volta de 1882 foi criado por lei o Distrito do Espírito Santo nas terras da fazenda do Espírito Santo.

Em 1905 já existia dezenas de sítios e fazendas, além dum número considerável de habitantes, por volta de 1.500 pessoas, morando no atual território de Ouro Branco, no entanto, a distância para a sede do município de Jardim do Seridó e para outras localidades onde os moradores se deslocavam para comprar produtos para a sua subsistência, vinha prejudicando os moradores que tinham que se deslocarem para comprar suas mercadorias, como também, alguns moradores eram comerciantes e tinham o interesse em vender seus produtos aqui mesmo, porque os mesmos também tinham que se deslocar para Jardim do Seridó para vender seus produtos (carnes salgadas, grãos, frutas, queijos e animais vivos) no dia da feira, acarretando muito trabalho porque eles tinham que acordar de madrugada, uma hora da manhã, e iam a pé ou a cavalo, levando suas mercadorias em tropas de burros ou carroças puxadas por bois ou jumentos. 

Então como já existia o Distrito do Espírito Santo, em 10 de maio de 1905, trinta e três moradores fizeram um abaixo assinado requerendo uma feira no referido distrito. É bom informar que esses trintas e três que assinaram o abaixo assinado eram descendentes dos primeiros moradores que habitaram a região de Ouro Branco. Já pertenciam a quarta e a quinta geração.

Após a aprovação da feira pela Intendência Municipal de Jardim do Seridó, na gestão do então prefeito Felinto Elísio, em 16 de julho de 1905 é realizada a primeira do Distrito do Espírito Santo.

Mesmo assim, muitas pessoas influentes em Jardim do Seridó agiam contrariamente a feira. O próprio dia escolhido, o dia de domingo, já foi uma tentativa e também uma imposição, mesmo por que, a feira de Jardim do Seridó como outras feiras de outras cidades da região eram realizadas no sábado, e era dado como certo o fracasso da feira do povoado do Espírito Santo, além do dia de domingo ser para muitos, o dia de descanso ou o dia que alguns naquele tempo iam à missa rezar na sede do município em Jardim do Seridó ou em Santa Luzia. Outra forma encontrada para desacreditar a feira logo no início e com isso amedrontar e espantar os comerciantes e as pessoas que vinham para a feira comprar suas mercadorias, foram os jagunços, principalmente, os da fazenda Pedreira, comandados por Neco da Pedreira, que vinham aos domingos a feira, e após tomar algumas lapadas de cachaça começavam a quebrar tudo que encontravam pela frente. No entanto, quando entrava em cena  Manoel Cirilo (posteriormente tenente), ajudado pelo seus sobrinhos João Bode e Ciço Soldado, além de Zé da Casinha, Zé Cariri e Chico Elizeu, e posteriormente pelos seus filhos Balá Cirilo (Manoel de Souza Silva), João Barbosa e Dedé Cirilo (José Cirilo da Silva), logo colocavam os jagunços para correr para felicidade geral dos moradores do povoado.

Portanto, a criação oficial da feira foi uma vitória da população local capitaneada pelas pessoas mais influentes do povoado, descendentes dos primeiros desbravadores de nossa terra, que começaram a chegar por aqui a partir de 1722. Essas trinta e três pessoas que assinaram o abaixo assinado, representantes de diferentes famílias, representavam todo o povoado e honraram os seus antepassados, como também, honram os seus descendentes. Parabéns ao nosso povo.

Abaixo, transcrição do abaixo assinado requerendo a feira e os nomes dos trinta e três moradores

“Illustres cidadães Presidente e mais membros da Intendencia Municipal. Concedida a licença solicitada para ser inaugurada uma feira no sitio Espirito Santo, sem prejuiso dos arremdantis dos respectivos impostos, assignados na Lei orçamentária em vigor, exceptuando o imposto de 100 reis para cada carga exposta à venda que fica dispe.

Os abaixo assignados, proprietários, moradores no districto do Espirito Santo tendo em vista a ficonda distancia que os separa dos lugares circunvizinhos, calculada em 5 leguas para esta cidade, 5 para a vila de Santa Luzia, 8 para a cidade de caicó, 4 para para S. João Do Sabugy e 8 para a povoação de Parelhas e visando mais, o progresso do município, vem solicitar de vós, como autoridade competente, a licença necessária para instalação d`uma feira no mencionado districto, cuja população já bastante crescida, luta com serias difficuldades para a freqüência imprescindível das feiras nos supracitados lugares.

P. deferimento.

Cidade do governo 10 de Maio de 1905

Manoel Marciano da Silva

Saturnino Fonseca

Quintino Tertulino da Fonseca

Cirillo Alves de Azevedo

Mizael Leite de Albuquerque

Manoel Antonio do Nascimento

João Antonio do Nascimento

Antonio José do Nascimento

Antonio José de Maria

José Alves Gameiro

Anizio Augusto da Silva

Flavio Lafaete Abuquerque Silva

Hygino Gomes de Oliveira

José Alves Gameiro Filho

José dos Santos de Oliveira

Manoel Victalino de Souza

Cirillo de Souza Silva

Manoel Cirillo da Silva

Manoel Adolpho de Medeiros

Porfirio de Souza e Silva

José Aprigio Fonseca

Valentim Firmo Lopes

Pedro Gonçalves de Souza

Manoel Gonçalves de Annunciação

Francisco Hercolano Baptista

Camillo Marcellino de Souza

Manoel Pedro de Figueredo

Francisco Pedro Figueredo

Francisco Dias de Araújo

Manoel Teodoro da Silva

Joaquim Melquíades Alves Chianca

José Barbosa Teixeira

Delmiro Monteiro da Silva"

Fonte: Livro "Ouro Branco: De 1722 a 1954".