Professor ourobranquense tem artigo publicado na Tribuna do Norte

  A missão do pai

 “Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso eu”. Dom Hélder Câmara assim conceitua o processo de missão, conceituando para, além da imagem religiosa, os papéis que cada pessoa assume nas mais diversas situações. Tudo é caminho, tudo é saída para adentrar em rumos outros capazes de extrair, aperfeiçoar, desenvolver habilidades e ferramentas para a boa condução da vida que se quer realmente viva. Quebra de paradigmas, quebra de “nós” se apresentam nesta conceituação como impulso ao desvelo de um mundo estagnado para possibilitar o alcance de outras formas de vivência. É o egoísmo que se prostra dando lugar ao irrequieto universo de busca da realização plena de cada indivíduo que está aqui na terra para, de fato, viver e viver plenamente.

Mas, o que tem a ver este conceito de missão com o texto que agora escrevemos?

Como é, muitas vezes, cômodo estar sozinho! Viver sozinho! Ser dono do seu próprio nariz! Apenas cômodo, longe das intervenções de outrem, distante dos gritos, risos e também lamentos. Mas, cá com meus botões, como é bom ter ao seu lado, o choro, o riso, o grito, o silêncio… numa profunda interação das contradições que nos tornam partícipes de um universo diverso como diversa a criação.

Assim é o caminho do pai. Deixa tudo, deixa o seu ser por um instante, mas adentra à quebra de sentimentos e ações que, antes de peso, é realização pessoal e coletiva, porque dizer sim à vida é estar em constante interação com os outros, entrando em suas dores, em suas alegrias, chegando mais perto do verdadeiro amor, entrada triunfal da possibilidade da plenitude. Pai ama, de fato. É porta que se abre. Não cansa, não desanima diante dos obstáculos, porque visualiza, além da simples visão de cores, aquilo que é essência para continuar vivendo: o amor concreto do ser filho ou filha.

Criem seus filhos na disciplina e admoestação do Senhor e não os provoquem à ira para que não fiquem desanimados. (Col. 3, 20-21)

Que maravilha é ser chamado à condução de vidas! Missão de pai. Conduzir filhos e filhas à ascensão da alegria, da fé, da realização de propósitos, de caminhos propulsores de vida plena, e se alegrar com eles a todo tempo, vivendo suas vidas como “um”. Agora não sou eu que vive, somos nós viventes. Minha dor é sua dor, meu alívio é seu alívio.

Ressoa em nós a condição de criador, de cuidador, de alguém capaz de conduzir destinos em meio a um universo distinto de tempos, espaços, situações. E, nesse contexto, encontram-se nossos medos, mas também nossas fortalezas, porque sentir o peso do ser condutor, muitas vezes é algo que dá medo pelo fato de existir neste caminho pedras de tropeço que invalidam, muitas vezes, aquilo que fora traçado como algo promissor para os seres cuidados. Mas nem tudo é medo: o poder agir, o poder conduzir traz a certeza de que tudo está posto e pode ser colocado em prática, porque o condutor está com as rédeas para traçar e mostrar caminhos.

Tudo se transforma na medida em que vamos vivendo. Viver em abundância é nossa meta como filhos e como pais. Em meio às adversidades encontramos caminhos que nos impulsionam a sermos verdadeiros artífices de formas várias de condução da vida. Esse ou aquele jeito de conduzi-la se dá em conformidade com nosso ambiente de vivência, nosso ambiente interior de participação ou não no cotidiano. São estas entradas no mundo vivo que nos vão dando o perfil do ser ou não feliz, do ser ou não pesado conduzir uma vida nascente. São estes momentos que nos proporcionam o contato com a verdadeira maneira de ser, de permanecer, de conviver. São estes momentos que nos dão a certeza de que somos verdadeiros pais porque conduzimos vida e não peso.

Milton Dantas

Psicopedagogo clínico